Acesso a saneamento se reflete em saúde, educação e turismo

RIO - Ao oferecer melhores condições de vida às pessoas, a universalização dos serviços de água e esgoto se desdobra em benefícios para saúde, turismo e educação. Nos municípios do entorno da Baía da Guanabara, o acesso pleno a esses serviços renderia ganhos superiores a R$ 31,2 bilhões em 30 anos, segundo estudo da Trata Brasil. — Todos os indicadores sociais do Brasil vêm apresentando melhoras nos últimos 20 anos, às vezes expressiva. Mas um deles melhora muito devagar: saneamento básico. Para a renda per capita do Brasil, fica completamente fora da curva. No entanto, é um setor em que o investimento tem alta taxa de retorno, forte em geração de emprego e retorno fiscal. É a maior taxa de retorno social no país — explica o economista e ambientalista Sérgio Besserman. Em 2013, foram registradas 2.745 internações em municípios no entorno da Baía da Guanabara por infecções gastrointestinais, sendo mais da metade delas nas quatro cidades mais populosas da Baixada Fluminense: Duque de Caxias, Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João de Meriti, todas com menos de 50% de cobertura de esgoto tratado. — Isso traz um imenso problema social, com redução da produtividade do trabalhador e do desempenho das crianças em escolaridade — diz Besserman. IMPACTO EM DENGUE E ZIKA Só em 2012, a falta de saneamento adequado resultou na perda de 36,8 mil dias de trabalho por pessoas que vivem no entorno da Baía da Guanabara, o equivalente a R$ 66,6 milhões em horas pagas, mas não trabalhadas. Com total acesso à água e esgoto tratado na região, esses números cairiam em 13,6%, com corte de R$ 9 milhões em custos. As despesas totais com internações seriam reduzidas em R$ 821,7 milhões em 30 anos. — O saneamento ajuda a combater doenças como as transmitidas por vetores como o Aedes aegypti. E isso é urgente. Com o aquecimento global, a tendência é ter temporada de Aedes o ano todo — alerta Besserman. Estudo feito pela Inter.B Consultoria Internacional de Negócios mostra que as perdas para a economia brasileira só por causa da dengue chegam a US$ 1,518 bilhão entre 2007 e 2016. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 95% dos casos da doença poderiam ser evitados com investimentos em saneamento. Sócio-fundador da consultoria, Cláudio Frischtak lembra que esta projeção é para uma única doença, o que sugere o enorme impacto para a economia de todas as doenças ligadas à falta de saneamento básico. Para o relator especial da ONU para o direito humano à água e ao esgotamento sanitário, Léo Heller, o investimento em saneamento é a melhor estratégia para enfrentar a epidemia de dengue, Zika e chicungunha, que afeta parte da América Latina, incluindo o Brasil: PUBLICIDADE — Estou convencido de que a priorização de intervenções ambientais para o controle da tríplice epidemia é a abordagem mais adequada para fazer frente à dramática situação provocada por essas doenças. Com a vantagem de que também melhorará, e de forma mais permanente, outros problemas de saúde pública. Também na educação, estudantes sem acesso à coleta de esgoto têm atraso maior que aqueles com a mesma situação econômica, porém morando em áreas com o serviço. Em caso de não contar também com água, o atraso fica ainda maior. Ao ter acesso a água e esgoto, o atraso desse estudante cai em 7,2%. Os ganhos vêm ainda em turismo, com ganhos diretos de mais R$ 800 milhões, e em valorização imobiliária, com outros R$ 22,7 bilhões, em três décadas.

Comentários

Postagens mais visitadas