O Ano à Frente: Os Desafios da Sony em 2016

Na nossa série de artigos O Ano à Frente, vamos explorar quais os desafios que esperam as três principais fabricantes de consoles terão que enfrentar em 2016. O que elas podem melhorar, o que elas devem mudar, o que precisa continuar. Hoje, vamos falar da Sony. Em termos de mercado, a Sony teve um bom 2015. Apesar da falta de exclusivos – o excelente Bloodborne e o surpreendentemente popular Until Dawn são os únicos que se destacaram – o PlayStation 4 continuou liderando o mercado de consoles de mesa mundialmente. Nos Estados Unidos, onde a marca Xbox tradicionalmente é mais forte, o PS4 foi o console mis vendido em pelo menos 9* dos 12 meses do ano. O corte no preço e acordos com jogos third-party como Call of Duty: Black Ops 3, Star Wars Battlefront, Batman: Arkham Knight e Destiny: O Rei dos Possuídos ajudaram nas vendas da plataforma, uma estratégia que, curiosamente, na geração passada beneficiou muito o Xbox 360, que não tinha tantos exclusivos quanto o PlayStation 3. *Os números de dezembro ainda não foram divulgados Mas o principal fator que impulsiona as vendas do PlayStation 4 ainda é o buzz do lançamento. Da mesma forma que a má primeira impressão do Xbox One ainda o prejudica, os acertos que a Sony fez durante todo o ano de 2013 ainda ajudam. A percepção do público geral, aquele que provavelmente nem vai ler esse artigo, ainda é que o PS4 é o console a se ter. Quando você conversa com alguém que não é tão ligado em games, chances são que esta pessoa tem vontade de comprar um PlayStation. O que a Sony fez durante o ano de lançamento do console o posicionou da mesma forma que o PlayStation 2. Essa é a plataforma legal. A plataforma pra quem quer jogar, a que todos os seus amigos tem. Mas essa impressão inicial vai diminuindo com o tempo, e 2016 pode ser o primeiro ano desde a chegada de ambos consoles no mercado em que isso deixará de ser um dos principais pontos a serem considerados na hora da compra. Se o consumidor sair do hype e parar para analisar os produtos, as vantagens de cada um, é possível, ou até provável que a oferta da Microsoft seja a mais atraente, com Halo 5: Guardians, Rise of The Tomb Raider e a retrocompatibilidade servindo como fatores importantes na decisão. E vamos encarar os fatos. Em 2015, o Xbox One foi o produto superior. O PS4 não deixou de ser um bom console, mas o Xbox One passou a ser ótimo. A mudança de filosofia da Microsoft foi palpável, Phil Spencer introduziu uma nova vida na empresa, que começou essa geração fazendo todas as escolhas erradas. Bons exclusivos, retrocompatibilidade, corte no preço e outras coisas ajudaram a empresa no ano que passou. Não existem, necessariamente, vencedores e perdedores, mas o fato é que a Microsoft teve uma performance superior a da Sony, mesmo que nos números ela continue bem atrás do PlayStation 4. A Sony, entretanto, tem todo o poder para mudar isso. Se a boa primeira impressão do PlayStation 4 era parte do que ajudava o console, a outra parte eram as promessas do que viria. Agora, é hora de por isso em prática, focando na mesma coisa que ajudou a Sony a sair na frente em 2013. Jogos. É isso que os donos de PlayStation querem, é isso que os interessados em games vão levar mais em conta na hora que seu amigo mais casual perguntar qual console ele deve comprar, e em todas as suas plataformas – inclusive no Vita – a Sony sempre se beneficiou pelos jogos. Seja por Metal Gear Solid, Final Fantasy VII e Crash no PS1, ou por Shadow of The Colossus, Jak & Daxter e God of War no PS2, ou até por Uncharted, The Last of Us e Journey no PS3. O PlayStation 4 tem bons exclusivos. inFamous foi um bom jogo de lançamento, mas Bloodborne é o único título absolutamente must-play disponível apenas no PS4. Ele não é o Remastation 4 como algumas pessoas gostariam de pensar, afinal o catálogo de third-parties já é bem robusto – The Witcher 3, MGS V, Fallout 4, Rocket League, Batman: Arkham Knight, Dragon Age: Inquisition, TowerFall: Ascension, Axiom Verge e Star Wars Battlefront são apenas alguns dos jogos desta geração que podemos citar – mas a força principal por trás de qualquer PlayStation são os jogos associados à marca, e no momento eles são poucos. Em 2016, o PlayStation 4 até pode continuar liderando graças a acordos de marketing com jogos importantes – Mass Effect: Andromeda, Dark Souls 3 e Final Fantasy XV são os principais suspeitos – como fez em 2015, mas depender disso vai torná-lo um produto inferior. Tudo, como já falamos, depende da Sony. A empresa está posicionada para ter um bom ano em termos de exclusivos, e só precisa terminá-los e lançá-los. Gran Turismo Sport, Horizon: Zero Dawn, Uncharted 4: A Thief’s End, Persona 5 e o lendário The Last Guardian são os principais exclusivos com data de lançamento marcada para 2016. Esse é um bom catálogo, que traz jogos mais autorais e únicos, além de blockbusters que sempre serviram de system-seller. Gran Turismo é, de longe, a franquia exclusiva da Sony mais vendida de todos os tempos, foram 70 milhões de unidades até agora, e GT Sport marca a estreia da série na nova geração. Não podemos subestimar o poder do gênero de corrida para o público casual. Por outro lado, Horizon: Zero Dawn mostra que o PlayStation 4 ainda não mostrou tudo que tinha pra mostrar em termos de novos IPs, e a Guerrilla parece estar cobrindo suas falhas. A desenvolvedora nunca foi conhecida por história, mas contratou roteiristas de Fallout: New Vegas e The Witcher 3: Wild Hunt, dois dos RPGs mais bem escritos dos últimos anos, para ajudar em Horizon. Persona 5 – que também sai no PS3 – com certeza vai acelerar as vendas e aumentar a positividade no Japão, e a série tem visto um grande crescimento neste lado do globo desde o lançamento de Persona 4 Golden. Caso ele saia este ano no ocidente, é provável que faça barulho. Já Uncharted é, bom, não tem como enrolar. É a Naughty Dog, um dos maiores e mais confiáveis selos de qualidade desde Crash no PlayStation 1. The Last Guardian, por outro lado, traz de volta o legado criado por Fumito Ueda com ICO e Shadow of The Colossus no PlayStation 2. Podemos até colocar jogos com No Man’s Sky e Street Fighter V, exclusivos de PS4 entre os consoles e que já são associados com a plataforma apesar de também terem lançamento marcado para PC, na lista. Mas até o momento, essas são promessas. Persona 5, No Man’s Sky e Uncharted 4 estão em desenvolvimento há anos, e quanto maior a espera, menor o impacto do lançamento. Gran Turismo não teve sua melhor fase no PlayStation 3, e The Last Guardian é a epitome de um jogo que demorou demais pra sair. Horizon e Street Fighter V são os jogo com o maior sentimento positivo na lista, mas sozinhos não são suficientes para garantir que o PlayStation 4 continue como líder na geração atual. E então temos outros diversos indies que vão sair para PS4 (alguns pra PC tb) e prometem adicionar variedade ao console. Firewatch é um dos mais interessantes até agora, The Witness é feito pelo criador de Braid e sangra com potencial. Hellblade tem uma desenvolvedora talentosa, a Ninja Theory, por trás, e What Remains of Edith Finch e Alienation tem dois selos de qualidade conhecidos pelo público PlayStation, a Giant Sparrow e Housemarque, respectivamente. Tudo, entretanto, depende da Sony. Suas desenvolvedoras first-party estão fazendo jogos para o PS4 há anos, alguns já saíram, mas é hora de tirar o pé do freio e acelerar. O PlayStation 4 é um bom console, um baita produto, e cabe a Sony manter isso uma verdade. E então temos um fator X, que pode ser uma benção ou maldição para a Sony. Essa foi a análise da Sony no mercado exclusivamente de games, mas ano que vem ela também se arrisca em outra coisa. Em 2016, a empresa, junto da Oculus e HTC/Valve, vai apostar suas fichas no mercado de realidade virtual. O PlayStation VR será lançado na primeira metade do ano, e é difícil dizer o que isso vai significar. O mercado de VR como um todo é, nesse momento, feito apenas de expectativas. Nós esperamos que o Rift e o PS VR finalmente concretizem o sonho de colocar um headset e se transportar para experiências diferentes. Com o PlayStation VR, a Sony tem duas estratégias diferentes. Ela pode apostar ainda mais em jogos, e posicionar o hardware como a melhor plataforma para games em VR – Gran Turismo Sport e Ace Combat 7 já foram confirmados, e No Man’s Sky é uma escolha tão óbvia que chega a doer – da mesma forma que fez com o PlayStation 4, ou pode criar algo mais geral, focando nas experiências de entretenimento variadas que a realidade virtual oferece. É difícil dizer quais das duas é melhor, mas como o PlayStation VR vai ser, provavelmente, o aparelho de realidade virtual mais acessível para a grande massa – excluindo coisas para mobile como o Gear VR o Google Cardboard – talvez algo no meio seja o melhor. O Rift vai ser para quem sangra realidade virtual. Usa-lo significa um investimento financeiro grande, já que requer um PC forte, mas o PlayStation VR pode ser a porta de entrada para esse mundo. O Brasil é excessão, mas mundialmente, o PlayStation 4 tem um preço relativamente barato se tratando de consoles. É importante que o PlayStation VR também seja acessível, idealmente mais barato que os US$ 600 do Rift. Com o menor preço possível em lugar, a Sony tem que se preocupar em criar um ambiente atraente para o consumidor que quer experimentar. Oferecer coisas de fácil compreensão, e que já existem no PS4, como Until Dawn: Rush of Blood e Gran Turismo Sport é importante, mas experiências diferentes, como as demos Kitchen e coisas viajadas estilo Dreams, da Media Molecule, também precisam estar lá. Também seria interessante oferecer coisas como turismo, assistir shows por VR, etc. A Sony não precisa se preocupar muito com exclusividades, já que isso não é um fator de enorme peso em realidade virtual ainda – mas a Oculus já se movimentou garantindo Rock Band VR para o Rift, algo que a Sony pode responder com Guiar Hero Live – só que é preciso ter o que oferecer para convencer o consumidor a gastar ainda mais num acessório para o PlayStation 4. A pior coisa que pode acontecer com o PS VR é se transformar em outro Move, algo que não vai gerar o dinheiro que a empresa espera. Em 2016, a Sony tem tudo para continuar se dando bem no mundo dos games. Tudo que ela precisa fazer é confirmar as promessas que fez em 2014 e 2015, e o resto fica por conta do ótimo sentimento que existe ao redor do PlayStation 4. Já em realidade virtual, é difícil prever o que vai acontecer, mas com certeza teremos um ano muito, muito interessante. Na próxima edição de O Ano à Frente, vamos explorar a empresa que, de longe, tem mais a provar em 2016 – a Nintendo, com o NX e a estréia no mercado mobile.

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