Rift Rivals: A infelicidade da vitória

Analisamos a passagem do CBLoL pelo Rift Rivals. O evento Rift Rivals acabou mundialmente no último sábado (8). Foram 5 torneios, 13 regiões e 41 equipes participantes. Baixada a poeira, é seguro afirmar: a competição cumpriu o seu papel em todos os cantos do mundo. Mais do que nunca as rivalidades estão em evidência. Afinal, quem imaginou que a Coreia do Sul cairia, mesmo que para a poderosíssima China? Os favoritos da Europa também sucumbiram perante seus rivais eternos da América do Norte, e a ainda novata região japonesa triunfou sobre seus adversários. Mas e o nosso Rift Rivals? A CLS (Latino-América Sul) conseguiu a impressionante primeira colocação na Fase Regular do Rift Rivals latino-americano, disputado contra a LLN (LAN) e o CBLoL. Foram cinco vitórias em oito jogos, uma marca muito além de qualquer expectativa criada para os times argentinos, pois sua região era, ao menos na teoria, a mais fraca dentre as três. No entanto, com um placar de 5 vitórias e 3 derrotas (3/1 contra o CBLoL), o topo da tabela foi conquistado. Durante a Fase Regular, a Furious Gaming se destacou consideravelmente, principalmente por ter vencido ambas as equipes brasileiras. O time do Caçador Khynm surpreendeu, mostrando um estilo de jogo aparentemente caótico, sem tanto destaque para as rotações como as conhecemos no Brasil, e mesmo assim triunfou. Nesta mesma etapa da competição, a Isurus mostrou-se aparentemente fragilizada. Os atuais campeões da CLS quase perderam para a pior equipe do Rift Rivals, a mexicana Just Toys Havoks, o que acendeu o sinal de alerta. Mesmo assim, a primeira posição para a CLS foi louvável, e as duas vitórias da Isurus, sobre a Havoks e a Red Canids, contribuíram para isso. Na Grande Final, as duas vitórias (que quase viraram três) sobre os times do CBLoL, com a Isurus jogando muito melhor do que na Fase Regular, foi assustador para os fãs brasileiros, e certamente emocionante para os latinos. A região, que mantém o jejum de títulos internacionais (excluindo os conquistados sobre a LLN), esteve a algumas rotações de fechar a série com um 3x2 triunfante. Para a LLN (Latino-América Norte), o caminho foi o inverso. Vinham como uma potência e acabaram em último lugar. Antes mesmo de começar a competição, duas grandes questões despontavam sobre a liga: Quão bons são os outros times da LLN, considerando que a Lyon venceu a liga sete vezes seguidas? Quão boa estaria a Lyon sem WhiteLotus, um de seus principais jogadores? As duas respostas desapontaram os fãs do League of Legends mexicano. A Just Toys Havoks, que representava a LLN junto com os Leões do Norte, mostrou-se uma equipe muito fragilizada. A não ser pelo Meio Hobbler, os jogadores são individualmente fracos, e parecem não conseguir trabalhar em equipe. Como, por exemplo, no fim de jogo contra a Isurus, ainda no primeiro dia de competição. A Havoks fez um bom trabalho para se segurar na partida, e parecia que conseguiriam uma virada épica, mas, no final, os jogadores acabaram se afobando e entregaram a vitória para os Tubarões do Sul. A Lyon Gaming, por sua vez, acabou não conseguindo substituir Lotus à altura. O Atirador titular da equipe é muito bom mecanicamente, mas o que mais fez falta foi sua experiência. Muitas vezes MarioMe (o substituto) era pego fora de posição, pois ficava em uma parte do mapa em que simplesmente não deveria estar. Pode parecer pouco, mas às vezes um pick-off é tudo o que uma equipe precisa para garantir a vantagem necessária para vencer um jogo. Mario comprometeu a Lyon... ... E mesmo assim a equipe sensação do México quase eliminou o CBLoL do Rift Rivals, levando tudo para a última partida da MD5 da semifinal, eventualmente vencida pela Keyd Stars. O CBLoL vinha como franco favorito para este torneio. O desempenho histórico internacional de nossa liga dá às equipes brasileiras uma bagagem de experiência consideravelmente maior do que os times das ligas latinas. Nos últimos três Campeonatos Mundiais, tivemos três times brasileiros presentes - um por edição. Além disso, foram diversos bootcamps realizados num passado recente que disseminaram conhecimento inter-regional em nosso cenário. Considerando isto e comparando aos dados da LLN e da CLS, era evidente que as Keyd Stars e Red Canids, representantes do CBLoL, venceriam o Rift Rivals com tranquilidade. Havia um acordo implícito entre times, jogadores e toda a comunidade brasileira, de que vencer - e vencer bem! - era uma obrigação. ...e este acordo foi quebrado com uma violência nunca antes contemplada. Durante a Fase Regular, vimos uma Keyd muito mais sólida do que a Red Canids, apesar da proximidade dos placares (3/1 e 2/2). O mesmo aconteceu na semifinal, contra a LLN, mas durante a Grande Final foi a vez da Matilha ser decisiva, vencendo o último jogo. Mas mesmo com o título, fica um gosto amargo na boca. O CBLoL quase perdeu, e não foi uma, mas duas vezes. O título veio com um aproveitamento baixíssimo: vencemos 11 das 18 partidas disputadas, ou 61%. Como uma curiosidade, foi o segundo pior desempenho para uma região campeã neste Rift Rivals, atrás somente da LPL, que venceu 8 das 15 partidas (53%). A LCS NA venceu 15 dos 21 jogos (71%), a LJL ficou com 80% de aproveitamento (8 vitórias em 10 jogos), e a TCL venceu 16 das 19 partidas disputadas (83%). Analisarei melhor o desempenho das equipes brasileiras nas linhas abaixo. Adianto que o panorama não é positivo. CBLoL vs CLS vs LLN Keyd Stars A Keyd foi a melhor equipe do Rift Rivals. Mesmo assim, não convenceu. Com um resultado de 3/1 na Fase Regular - além do título, é claro - pode parecer que a apresentação dos Stars no palco internacional foi satisfatória. O que importa é vencer, afinal, não? Talvez seja um pensamento válido durante os jogos, no calor do momento. Há um quê de irracionalidade na paixão de um torcedor. Ao fim dos jogos, no entanto, o sangue esfria. É preciso olhar de maneira calma, fria e analítica. Não, o que importa não é apenas a vitória. Apenas alguns detalhes separaram o triunfo do CBLoL da completa ruína. Sem críticas pode parecer que está tudo bem, quando não está. Sem críticas a passagem rápida pela lama pode tornar-se um banho longo, de vários meses, até a próxima oportunidade internacional. No caso específico da Keyd, se Takeshi não tivesse jogado como o lendário Capitão, sobretudo no jogo decisivo da semifinal contra a LLN, o CBLoL provavelmente teria perdido contra uma região que nunca conquistou nada (CLS), e uma região de um time só (que ainda vinha desfalcado para esta competição - a LLN). A Keyd andou na corda bamba (quase caindo) até este lance em específico. Se Takeshi não tivesse acertado um ultimate tão bom assim, parando os dois jogadores da Lyon Gaming, era provável que a Keyd tivesse perdido a partida. A dupla Caçador-Meio da equipe mexicana ficaria forte demais, e poderiam impor seu ritmo sobre a rota inferior brasileira sem nenhuma contestação efetiva, fazendo a vantagem de ouro dar um salto gigantesco. No entanto, a boa jogada do Capitão fez a Keyd voltar na partida e conquistar mais uma virada. De maneira geral, a Keyd teve começos de jogo favoráveis com Revolta conseguindo vantagem sobre seus adversários diretos na selva. A leitura do Incrível era precisa. Em praticamente todos os jogos, o Caçador mais famoso do CBLoL sabia de quase todos os movimentos dados na selva inimiga, e se aproveitava disso para roubar seus campos. Assim, não era muito incomum que Revolta conquistasse o nível 6 enquanto seu oponente estava no 4. E, de maneira (negativamente) surpreendente, não foram raros os casos em que esta vantagem não virou absolutamente nada… Mesmo atrás, os oponentes de Revolta eram mais participativos e ajudavam o seu time a conquistar abates. Essa distribuição de vantagem deveria ser feita por Revolta, que quase sempre estava muito mais forte que o Caçador inimigo - é inaceitável que talvez o melhor Caçador do CBLoL não tenha conseguido transferir suas vantagens gigantescas em todas as vezes que as conquistou. No último Depois do Nexus (segunda-feira, 10), foi defendido pelos Caçadores Revolta e Nappon que isso não acontecia pela capacidade das equipes de se unir em 5 no mapa muito cedo, ou devido a abates acontecendo nas rotas laterais. Em um ou dois jogos, é normal ser surpreendido. Mas isso não aconteceu uma ou duas vezes. Foram diversas, também afetando a Red Canids. E essa situação complicada aconteceu logo na partida de estreia dos Stars no Rift Rivals, contra a Furious Gaming: Revolta venceu Khynm na aposta de que roubaria toda sua selva e que colocaria dois níveis de vantagem sobre ele, mas de quê adiantou? A Keyd foi derrotada, sofrendo uma virada. As palavras de Revolta mostram que o pior erro foi, na verdade, de atitude. Sofrer uma jogada inimiga por desconhecê-la é ruim o bastante. Sofrer essa mesma jogada sabendo que ela vai acontecer ultrapassa qualquer barreira do absurdo. É entrar de salto na partida - e ambas as equipes fizeram isso. Não respeitaram os times adversários. O ego do CBLoL balança perigosamente seguro pela corda (cada vez mais) fina dos “bons resultados” internacionais. Uma hora a corda se romperá e o ego, tão pesado como só ele consegue ser, irá se partir de maneira irremediável quando se chocar contra o chão tão duro quanto a realidade. Red Canids A Red Canids mostrou-se perdida em muitas partidas. A Matilha conseguiu bons começos em quase (muita atenção ao quase) todos os jogos, mas a tragédia era quase certeira: na transição do começo para o meio de jogo, os Lobos se perdiam e não conseguiam transformar suas vantagens iniciais em algo sólido. Não bastasse que por vezes entregasse as vantagens: nos jogos em que a Matilha não começou ganhando, as falhas de early game foram simplesmente grotescas. Uma dessas falhas foi no segundo jogo da Grande Final, Red Canids contra Isurus Gaming. Um dos pontos fortes da composição da Matilha estava no começo de jogo favorável da rota superior, mas apenas no começo da partida: Renekton (RED) vs (Isurus) Gnar. Entretanto, Robo foi abatido em dois ganks seguidos antes dos 10 minutos de jogo. O Topo brasileiro jogava sem o Flash, sem visão do rio e ainda avançava, buscando as trocas. Foi praticamente um convite para QQmore (Lee Sin). No entanto, o pior da Red ainda estava por vir. Na última partida da MD5 contra a CLS, a Matilha Vermelha enfrentou a Isurus Gaming. Não foi um jogo fácil. Antes dos 15 minutos de jogo, a equipe argentina conseguiu expor o inibidor da rota superior brasileira. Como? Com um dos melhores usos do Arauto do Vale de todos os tempos no mundo todo. Foram três torres destruídas com o auxílio da criatura. A Red, enquanto isso, achou que seria uma boa ideia garantir recursos do outro lado do mapa. Um spoiler: definitivamente não foi. O pior de tudo é que esse tipo de rotação era característico da Isurus. Quando a equipe fez o Arauto e a Red viu que a movimentação era para o topo, deveria ter se organizado para defender suas estruturas imediatamente. Não se compra uma corrida pela base contra uma equipe que tem o Arauto. A Red viu em primeira mão o que acontece quando se deixa a criatura (e mais cinco Campeões) atacando um lado do mapa sem nenhum tipo de defesa. Uma das críticas mais duras a esse momento em específico foi feito pelo analista Gustavo “Melão13” Ruzza, durante a transmissão: Vejo dois caminhos possíveis agora. Ou os times do CBLoL descem do salto, respeitando cada adversário como no mínimo um igual, ou nossa única comemoração será um eventual triunfo contra o LAS e LAN - considerando (e rezando para) que eles não nos ultrapassem.

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